Já afirmava Pablo Neruda em “Se nada nos salva da vida, que pelo menos o amor nos salve da vida”, que o amor seria o antídoto para lidarmos com a angústia e medo da finitude da vida.
A verdade é que a morte não pode ser evitada, controlada e nem prevista. O fim da vida vai chegar para todos de alguma forma, em algum momento. Talvez esse fator surpresa que seja o problema, né? Vivemos em constante ansiedade sobre quando e como vai acontecer.
Tememos a morte porque fomos construídos socialmente a isso. Nossa sociedade ocidental tem vergonha da morte, pois ela é a maior evidência que temos de nossa impotência e pequenez enquanto seres humanos, e nos constrangemos frente a essa realidade, passando a evitá-la de todas as formas.
Precisamos entender que a morte não é uma questão de “e se acontecer”, mas sim de “quando e como acontecer”. Deixar de falar sobre isso não irá impedi-la de chegar. Ao mesmo tempo que pensar nisso de forma constante transforma a vida em um campo minado em que a gente só sobrevive, aguardando – angustiados – o dia da morte vir.
É interessante pensarmos como Maria Helena Pereira Franco nos coloca em seu último livro publicado, que morte e vida se conectam na mesma linha do tempo, assim, o medo da morte então se conecta com o medo da vida. Pois é, tememos a morte quando não temos muito claro em nós sobre o sentido da vida que vivemos.
O antídoto para o medo da morte torna-se, então, o mais antigo de todos (e talvez mais eficiente) – o AMOR. Amor para viver consigo mesmo, amor para viver os vínculos, amor para viver uma vida com sentido.
É sabendo sobre a brevidade da vida, que podemos nos despertar para a própria e vivê-la em plenitude. Uma vida em plenitude, segundo a pesquisadora Brené Brown se baseia em alguns aspectos importantes, entre eles: viver uma vida em que nossas ações sejam coerentes com nossos valores de vida; exercer a criatividade nas nossas ações; exercer como prática os pensamentos e ações de gratidão e alegria, ter calma e tranquilidade na rotina e sempre deixar espaço para o descanso e lazer e viver uma vida em que a prática da autocompaixão esteja presente. Sermos mais gentis com nós mesmos, cuidarmos dos pensamentos que temos sobre nós e não nos culparmos ou nos cobrarmos demais pelas coisas.
A prática da autocompaixão (conceito muito bem trabalhado por Kristin Neff) inclusive, é peça fundamental para lidarmos com os momentos difíceis de nossas vidas. Entender que eles irão acontecer e que não precisamos exercer total controle sobre isso. Podemos nos permitir viver o que tiver para viver, acolher e aceitar as emoções mais desagradáveis.
A autocompaixão tem como base três princípios a serem seguidos para que possamos treinar sua prática em nossas vidas: você deve ser gentil com você mesmo, deve trabalhar com uma mentalidade de coletividade, pensando que você nunca estará sozinha passando pelas suas dores – busque construir uma rede de apoio; e por fim, esteja plena e consciente no momento de agora, só assim você poderá entrar em contato e absorver as reais emoções que você esteja vivendo.
Por fim, não existe um único caminho correto, um padrão ou uma receita para lidar com os momentos difíceis. Cada um irá construir esse caminho – um dia de cada vez, uma conquista por vez. Permitindo-se viver esse seu processo, acolhendo a si mesmo, buscando estar perto de pessoas que sejam acolhedoras, buscando momentos de lazer e prazer – e não se culpando por isso!
E se esse caminho estiver muito difícil de ser traçado sozinho, sempre existe a possibilidade de procurar por ajuda profissional. Lembre-se: esse caminho não precisa ser traçado sozinho!
Referências:
Neff, Kristin. Autocompaixão: pare de se torturar e deixe a insegurança para trás. Teresópolis, RJ: Lúcida Letra, 2017.
Franco, Maria Helena Pereira. O luto no século 21: uma compreensão abrangente do fenômeno. São Paulo: Summus, 2021.
Brown, Brené. A coragem de ser imperfeito: como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.